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Visibilidade à identidade de gênero

Visibilidade à identidade de gênero: luta pelo direito à educação 
Segundo conselheiro do Conselho Municipal LGBT de Cuiabá, Brasil concentra 82% de evasão escolar de travestis e transexuais

*Texto elaborado por Gabriela De Andrade, Ana Karollayne e Pedro Mota para cadeira de Fundamentos da redação jornalística, lecionada por Tiago Fernandez, professor da Uninassau, em 2018.

Transexualidade consiste na não identificação do gênero que lhe foi designado de acordo com o sexo anatômico, manifestando o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto. Ao se identificar com tais elementos, alguns trans iniciam o processo de transição, podendo passar por tratamentos hormonais e cirúrgicos. De acordo com um mapa de assassinatos da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), até 01/05/2018, no território brasileiro 64 trans foram vítimas de homicídio. Espancados, mortos com arma de fogo, esfaqueados, apedrejados ou estrangulados. 

Ariel Lais de Lima, mulher trans, 22 anos, desempregada, confessou ter vontade de cursar designer de interiores e arquitetura, porém ainda não se sente segura e preparada para ingressar em uma faculdade. A insegurança foi gerada após Ariel ter sido alvo de bullying no ensino médio por conta de sua orientação sexual. A mesma assumiu sua homossexualidade aos 14 anos, mas ainda assim, relata que sentia que faltava algo em si. "Com 18 anos passei a entender mais sobre o que é uma pessoas transgênero através de várias pesquisas, me identifiquei com todas elas, fiquei aliviada e ao mesmo tempo com medo", declarou ela. 

Estudo realizado em 2016 pela Secretaria de Educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (ABLGBT), aponta que dos 1.016 jovens ouvidos na pesquisa, 55% afirmaram ter ouvido ao longo do ano anterior, comentários negativos especificamente a respeito de pessoas trans no ambiente escolar; e 45% disseram que já se sentiram inseguros devido à sua identidade/expressão de gênero. 

Fernando Tude, homem trans, 25 anos, empregado em um escritório de advocacia em 2018, conta que por volta dos seus 10 anos começou a não se identificar com o corpo, mas somente aos 17 iniciou a transição de gênero. “A reação da minha família foi péssima. Meu pai não fala comigo até hoje, e minha mãe passou dois anos sem querer me ver”, pontuou. Além de não ter tido apoio da família, Fernando conta que muitos de seus amigos se afastaram, e hoje só possui amigos posteriores ao período de transição.

No ano de 2016 foi assinado pela Presidência da República o decreto n º 8.727, que reconhece o uso do nome social e a identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais em todos os documentos oficiais em órgãos de administração pública. Fernando lembra que precisou trancar o curso de direito, e dar entrada na alteração judicial de seus documentos “Foi difícil permanecer na faculdade, por mais que os diretores do curso tentassem explicar a situação, muitos professores ignoravam minha identidade de gênero e me chamavam pelo nome de registro”. Após ter levado três anos para regularizar seus documentos, Tude revelou que regressará a faculdade em Agosto de 2018. 

Pesquisa conduzida em 2016 pelo defensor público João Paulo Carvalho Dias, presidente da Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e membro conselheiro do Conselho Municipal de LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) em Cuiabá; mostra que o Brasil concentra 82% de evasão escolar de travestis e transexuais. Assim, poucos transexuais chegam às universidades e menos ainda ao mercado de trabalho formal, que geralmente exige mão de obra qualificada. A falta de discursão sobre o acolhimento de pessoas trans nas instituições de ensino e no mercado de trabalho é o principal motivo para o crescimento da evasão educacional por parte de tais pessoas. 

Ricardo Negreiros, apelidado Rick, 20 anos, estudante do curso de publicidade e propaganda, declarado sem gênero, percebeu ser afeminado aos 18. Mas, por medo de sofrer bullying, tinha receio em entender e explanar a sua sexualidade para a família e no âmbito escolar. Rick afirma “Com minha família foi um inferno, passeio por situações muito complicadas e coisas que jamais imaginei enfrentar”. Em contrapartida, ele alega sempre ter encontrado apoio nos amigos, e que inclusive trocam roupas e maquiagens uns com os outros. 

“Até fiquei um pouco ‘espantada’ quando entrei na sala de aula e tinha muito gay e lésbica, sério, não esperava encontrar aquilo”, brincou Rick, quando perguntado sobre seu ingresso na faculdade. Mas, alegou que a instituição não o contempla por inteiro “ Sinto uma grande necessidade por um banheiro sem gênero, para que eu possa fazer minhas necessidades fisiológicas sem me sentir invasiva em certos espaços”. 

A psicopedagoga Paula Costa, atualmente professora de português, graduada em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco e especialista em Psicopedagogia clínica e institucional pela Universo, afirma: “O caminho mais certo para a ampliação da compreensão e aceitação das questões de gênero, é abrir espaço para o diálogo... O que se quer é muito mais ser ouvido, ser tratado com respeito e isso independe do gênero, etnia e ou classe social.”
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